-COLUNA- Desta terça (02/07) – França em Transformação: A Ascensão da Extrema Direita e a Batalha pelo Futuro Político

As eleições legislativas de ontem, 30 de junho de 2024, marcaram um “turnpoint” ou “uma virada” importante na política francesa, com a extrema direita liderada pela Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen vencendo o primeiro turno. As pesquisas de boca de urna indicam que a RN obteve entre 33% e 34,2% dos votos, superando a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a aliança pró-Macron Juntos, que obtiveram entre 28,5% e 29,6% e 20,3% e 22,4% dos votos, respectivamente.

Contexto:

•   Alta Participação Eleitoral: A eleição registrou a maior taxa de participação em 38 anos, com quase 60% dos eleitores votando.
•   Frente Republicana: Para impedir a ascensão da RN, a NFP retirará seus candidatos que ficaram em terceiro lugar nos distritos onde haverá três candidatos no segundo turno, evitando a divisão de votos que poderia beneficiar a extrema direita.

Desafios e Implicações:

•   Negociações Políticas: As próximas semanas serão marcadas por intensas negociações, já que a RN precisa formar alianças para garantir uma maioria absoluta de 289 assentos na Assembleia Nacional.
•   Coabitação: Se a RN alcançar a maioria, Macron terá que coabitar com um governo de extrema direita, o que enfraquecerá sua posição tanto internamente quanto no cenário internacional.

Reações:

•   Macron: Apelou aos eleitores para apoiarem candidatos “claramente republicanos e democráticos”, excluindo a RN e o partido de extrema esquerda França Insubmissa.
•   NFP: Jean-Luc Mélenchon confirmou a retirada dos candidatos em terceiro lugar para evitar votos para a RN.
•   RN: Jordan Bardella, presidente da RN, afirmou estar pronto para ser primeiro-ministro se seu partido conquistar a maioria absoluta.

Cenário Econômico e Político:

•   Impacto Econômico: A decisão de Macron de antecipar as eleições mergulhou a França em incerteza política e gerou ondas de choque na Europa.
•   Histórico: A RN está mais próxima do poder do que nunca, e a elevada participação pode indicar um resultado moderado para a extrema direita.

Conclusão:
As eleições legislativas de 2024 são um divisor de águas na política francesa. Com a ascensão da extrema direita, a França enfrenta um período de grandes transformações e desafios. A segunda rodada será crucial para definir o equilíbrio de poder na Assembleia Nacional e o futuro do país. Será que ainda teremos Paris?
Para mim, há uma convergência de fatores, são eles: (1) Cansaço com o establishment político, especialmente na direita francesa; (2) Refluxo com a globalização e a desindustrialização na França; (3) Imigração e a exploração de uma política de ressentimento, baseada em um transacionalismo econômico interno; (4) Uma profunda mudança na imagem do Reagrupamento Nacional, a partir da ascensão da figura de Jordan Bardela; (5) Uma conjuntura econômica extremamente difícil nos últimos anos, marcada por um aumento substancial nos custos de vida. Mas o que a ascensão da extrema direita significa para a França? Bom, a resposta ainda é difícil, mas se a plataforma do partido se confirmar, veremos um profundo retrocesso em imigração e direitos humanos. E, em em um contexto internacional? Será que vivemos mudanças estruturais na política europeia, ou apenas uma conjuntura conturbada?

Tiago Lima
Bacharel em Relações Internacionais
Especialista em Direito Internacional e Diplomacia